EDITORIAL
Desde que começou em fevereiro de 2016 o Comando Notícia jamais postou nomes ou fotos de vítimas ou acusados de crimes. Esta é a linha editorial que seguimos e ela prosseguirá dentro desta gestão atual. Os motivos são vários, desde o respeito às pessoas, passando por blindagem jurídica até a possibilidade de se tornar um tribunal virtual. Além disso, o Comando Notícia é uma empresa privada e pode optar por operar do jeito que preferir, o famoso: porque sim.
Crimes: todas as vezes que acontece algum tipo de acusação, feito pela vítima ou autoridade policial, há uma averiguação (checagem) que pode acabar virando uma acusação. Mesmo em caso de réus confessos, até o julgamento final, as pessoas são consideradas inocentes. É um termo jurídico chamado princípio da inocência. Alguém é inocente até que se prove o contrário. É para isso que existe a Justiça e é nela que o Comando Notícia acredita.
O problema é que nós damos a notícia quase que instantaneamente, no máximo alguns dias depois. Optamos por não colocar nomes ou fotos, apenas características básicas como o sexo (homem ou mulher), idade e até ocupação em alguns casos. Até que se prove o contrário, todos são inocentes. Mais do que isso, todos são filhos, mães, pais, irmãos, sobrinhos, amigos ou até conhecidos de alguém.
O Comando Notícia não é um local para informar conhecidos sobre os crimes de alguém, é um site para fornecer notícias de todo o tipo sem citar os envolvidos. Por respeito a eles e principalmente pelos familiares. De furtador de galinha até estuprador ou assassino. Exceção óbvia feita em dois casos: criminoso foragido e que a polícia peça a divulgação, ou figura pública.
Acidentes: não são poucos os acidentes noticiados ao vivo e infelizmente muitos deles são fatais. Nestes casos e em acidentes não letais, os responsáveis oficiais da comunicação de feridos ou mortos são: agentes policiais ou o hospital. Não é intenção e nem função do Comando Notícia dizer quem é. Por vários fatores. O primeiro deles é pela responsabilidade de avisar a família, que é de um agente devidamente preparado e não em meio de um ao vivo.
Em segundo lugar porque pode decair em um tribunal virtual. Pessoas que comentam dentro do seu direito de manifestar ficam especulando quais seriam culpados em acidentes. Isso também quem aponta são as investigações. E é óbvio que a última coisa que uma família precisa em um momento de preocupação é que pessoas que não tem nada a ver com o caso fiquem palpitando.
Depois da família ser avisada também optamos por não divulgar fotos ou nomes. Esta é uma opção que poderíamos abrir mão. Mas preferimos não ser parte da dor de alguém ferido ou da família de uma vítima fatal. Em quê muda a notícia tendo uma foto de uma pessoa ou não? Em quê isso acrescenta para o público que não conhece a pessoa? Quem conhece, sabe. Para quem não, é pura fofoca desnecessária. Imagine a dor de uma mãe rever a foto de um filho vitimado em um acidente. Não seremos esse gatilho de dor para alguém.
Tribunal virtual: em tempos de pedras nas mãos, quem atira primeiro tem mais chance de derrubar o outro. Redes sociais parecem terras de ninguém. Uma porcentagem preocupante de comentários que lemos todos os dias nas nossas postagens dizem respeito a pessoas que desejam a morte de outras, por exemplo. Cada um com a sua opinião. Nós começamos como um site de notícias apenas de polícia, pois são os fatos que mais causam curiosidade. E por isso temos mais de 10 milhões de vezes a nossa página vista. Mas a questão aqui não é esta.
Como explicamos antes, até que alguém seja devidamente julgado, é suspeito. E mesmo alguém condenado, não está condenada a pessoa, mas sim está condenado um ou mais atos que ela cometeu. E por isso ela paga (com prisão, multa ou penas alternativas). Nenhuma pessoa é julgada, mesmo pelos juízes que são pagos para julgar. O que está em julgamento são atos. E mesmo o pior dos bandidos, pela lei, deve ser julgado por isso e não pela pessoa que é.
Dito isso, comentário em redes sociais não devem conter julgamentos. Nem para quem noticia, nem para quem participa, nem para os acusados. Porque cabe à Justiça fazê-lo. E também porque um tribunal virtual causa um tremendo sofrimento da família de todos, de quem produz a notícia, de quem é a vítima e também de quem é acusado, já que todos tem famílias e amigos.
Por causa disso o Comando Notícia não posta fotos, mesmo jornalisticamente e juridicamente ser permitido que fotos e notícias sem postadas desde que os termos “suspeito” sejam atrelados. O problema é que nas redes sociais tudo isso mudou. Não há mais suspeito. Do alto do seu sofá, o internauta se acha no direito de condenar quem achar pertinente e que se exploda a Justiça. Para evitar isso (e possíveis e passíveis processos também), nós noticiamos tudo, mas não damos os nomes.
Preservando o trabalho da polícia investigativa e as pessoas, principalmente as famílias dos atingidos. Há outros meios de imprensa que divulgam e tem este direito. Nós também temos, mas optamos por fazer apenas a notícia, sem explorar vítimas ou histórias. Notícia é notícia, não é novela.
Sem fotos e sem nomes ainda é notícia?
Sim. Nos padrões no jornalismo deve-se dizer o quê aconteceu, onde, quando, como, porque e com quem. E este com quem não precisa necessariamente ser especificado. Tudo isso para dizer que falar que o João da Silva morreu em um acidente não muda em falar que um homem de 32 anos morreu em um acidente. Colocar a foto do carro batido não muda em relação a colocar a foto do rosto dele. O que muda é ser um ponto de dor para a família e é isso que queremos evitar.
A notícia não muda se há fotos ou não. É o básico. Houve um acidente, onde ele aconteceu, como ele aconteceu, quando e quem – neste caso um homem ou uma mulher, que morava em uma cidade específica e tinha uma idade. Apenas isso basta. O resto é fofoca e dor desnecessária a quem já está sofrendo.
Analfabetismo funcional e fake news
A cada dez brasileiros, pelo menos três são analfabetos funcionais. O que é isso? São pessoas que sabem ler. Sabem as letras… A, B, C. Leem palavras e frases. O problema é que elas não entendem o que leem. Este também é um problema nas notícias virtuais. Nossas redes tem chamadas para o nosso site. Quem quiser ler a história completa ou ver todas as fotos precisa acessar a nossa plataforma, mas nem todos fazem isso.
Por causa disto (analfabetismo funcional) e também por causa das pessoas não entrarem no nosso site para saber o que aconteceu, há julgamentos que acontecem de forma equivocada. O problema está no fato de que quase nunca é possível recorrer. Uma notícia repassada de forma errada quase nunca é corrigida. Uma reputação, um emprego, um casamento, um caminhão de dinheiro. Algumas destas coisas se desfazem por uma informação mal entendida.
O Comando Notícia é 100% responsável pelo que escreve, fotografa, filma e fala no programa da Rádio Jornal. O problema é que não dá para se responsabilizar também pelo que as pessoas entendem daquilo que é falado ou lido. Nossos esforços são para que as pessoas entendam os textos da melhor forma possível, mas nem sempre isso acontece. Fazemos isso também para evitar as chamadas fake news (notícias falsas, em inglês) cujo buraco é mais embaixo, por serem notícias dadas de forma errada de forma intencional.
Por fim, as notícias são notícias. Não são locais para julgamentos, tomada de decisões contra ou a favor de pessoas, são informações. O público decide o que faz com ela. E torcemos honestamente para que consiga fazê-lo com bom senso.
Dois exemplos são o ideal para encerrar. O primeiro é o da escola base. Uma notícia dada de forma totalmente errada fechou uma escola em São Paulo na década de 1990. A acusação era grave de atentado contra a inocência das crianças. Depois provou-se que tudo era mentira. Mesmo com processos e indenizações a escola fechou e deixou sequelas inimagináveis e irreversíveis em muitas famílias.
Outro caso é de um homem que foi acusado de pedofilia aqui no Brasil. No ano passado, depois de passar anos preso, ter tido a imagem vinculada na televisão, usada por políticos para fazer campanha, foi decidido que ele, na verdade, era inocente. O problema é que o homem sofreu torturas na cadeia. Perdeu a visão de um dos olhos.
Tudo por uma notícia errada, dada de forma errada e que o público julgou de forma equivocada. A vida deste homem nunca mais será a mesma. Bastava um pouco de bom senso da imprensa e do público, mas isso foi esquecido na época. Pense em tudo isso antes de comentar a próxima postagem seja lá de quem for. Há pessoas por trás de tudo. A maioria delas (vítimas e famílias, principalmente), inocentes.