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Presidente do PSL Indaiatuba confirma que partido terá candidatos nas eleições 2020

HUGO ANTONELI JUNIOR

Indaiatubano de coração há cerca de três anos, Sylvio Malheiro, 50 anos, já voou muito por aí. Ele integrou durante mais de 30 anos a aeronáutica e atualmente é da reserva. Depois de morar em 15 cidades em várias regiões do país ele parece desistiu de fazer mais escalas com a família e pretende morar em Indaiatuba (SP) por muito tempo.

Filiado ao partido Novo há alguns anos, depois que o partido definiu que não terá candidatos em cidades com menos de 300 mil habitantes, foi para o PSL, fundando o partido em Indaiatuba. A nominata com a nomeação como líder do grupo na cidade saiu há menos de um mês e ele dá a primeira entrevista oficialmente como integrante do partido ao Comando Notícia como parte do especial do site sobre as eleições 2020.

Em uma conversa de cerca de 40 minutos, ele falou sobre Bolsonaro, Lula, Doria, Gaspar, Rogério Nogueira, Bruno Ganem, Câmara, CPI da Saúde e confirma que o partido terá candidatos na cidade no ano que vem. Confira a conversa transcrita na íntegra abaixo.

Comando Notícia: Como o senhor está avaliando o governo Bolsonaro?

Sylvio Malheiro: Dentro daquilo que nós podemos enxergar, principalmente de acordo com as promessas de campanha dele, está cumprindo praticamente 100% do que prometeu. Naturalmente eu fui um eleitor dele no primeiro e no segundo turno e acho que ele está indo muito bem a despeito de uma outra falar talvez alguma coisa que não deveria ser falada. Eu diria frente a equipe de governo que ele tem, uma equipe técnica maravilhosa, ou seja, as ações do governo as entregas do governo superam em muito uma ou outra escorregada que ele possa dar em algumas palavras por aí.

CN: O senhor é da Força Aérea como ele. Chegou a ter contato com ele? Conheceu Jair Bolsonaro?

SM: Conheci em 2015 eu era diretor do parque de material bélico da aeronáutica lá no Rio de Janeiro e ele já tinha colocado na cabeça que ele seria candidato, eu tive o privilégio de recebê-lo como deputado federal, convidado por mim, é óbvio, para os 70 anos da organização, ele prestigiou a nossa formatura. Foi um papo interessante. Naquela época ele estava começando a caminhada dele como candidato. E também lá no Rio teve o contato com o Flávio [Bolsonaro] que era deputado na época. Fica na Ilha do Governador, ao lado do aeroporto do Galeão.

CN: Agora com o partido oficializado na cidade, tem alguma chance do presidente vir à Indaiatuba?

SM: Vamos envidar esforços para que isso aconteça. Infelizmente o PSL está passando por esta cisão. Nenhum de nós pode afirmar o que vai acontecer no partido. Considerando a condição normal de pressão e temperatura, se tudo voltar ao normal com certeza envidaremos todos os esforços para trazer o presidente para a cidade.

CN: Se o Bolsonaro sair do partido, qual será a posição de vocês?

SM: Considerando que o diretório estadual que nos deu o partido é o atual diretório cujo presidente é o Eduardo Bolsonaro, o vice-presidente é o Gil Diniz, o secretário é o Tiago Cotez, o primeiro secretário é o Luiz Felipe de Orleans e Bragança, o que eu quero dizer? Considerando que esta nominata foi aprovada por este diretório estadual, nós entendemos que se eles saírem ou forem expulsos do partido, nós saímos junto. Porque o voto de confiança, a lealdade é com este grupo que é o diretório estadual, é uma briga de pessoas que a  gente nem conheceu ainda. Este grupo do diretório, tudo normal, mas eles saindo a gente sai junto, não tenha dúvida disso.

CN: Qual é a sua avaliação do governo Doria?

SM: Eu vou retroagir um pouco, porque na época da campanha ele lançou aquele bordão “Bolsodoria” e me causa tristeza quando a gente vê alguns meses depois o governador já se descolando deste bordão, querendo fazer uma administração independente, dizendo que o Bolsonaro não teve influência alguma na eleição dele, o que eu considero uma mentira. É este aspecto que me causa decepção. Contudo, avaliando as ações do governador, ele está fazendo uma administração correta dentro daquilo que ele considera prioridade. Em uma avaliação bem geral, diria que a administração dele está de regular para bom.

CN: E o governo Gaspar, qual a sua avaliação?

SM: Então, eu sou um morador relativamente novo, de três anos e aí não pretendo mais sair daqui, a minha família se apaixonou. Na minha carreira de mais de 30 anos na aviação, fiz mais de 15 mudanças, no nordeste, sudeste. E isso me dá uma capacidade de avaliação do município melhor do que quem vive a vida toda em uma cidade só. Porque você tem um padrão de avaliação mais abrangente. A avaliação é boa. Só que a minha observação como presidente de partido é talvez falte um pouco de priorização daquilo que precisa ser feito. Indaiatuba, nós sabemos, é um município que não falta dinheiro. O orçamento deste ano é de R$ 1.072 bilhão, o orçamento previsto para o ano que vem é de R$ 1.249 bilhão, quer dizer, você fazendo uma conta rápida de cabeça, dividido por 250 mil habitantes dá R$ 5 mil por cabeça. É um baita de um orçamento que dá para atender, eu não diria a maioria da população, mas uma boa parte delas. Será que a demanda da população, não estou dizendo que não é urgente, é você ficar fazendo asfalto, praça, iluminação, é realmente a prioridade? Com tanta reclamação que a gente ouve do [Hospital] Dia e do Haoc. A saúde é um gargalo de todos os municípios e em Indaiatuba não é diferente nisso. E algumas reclamações na estrutura da escola, talvez na qualidade de ensino. Reclamações que já vieram falar conosco com relação às drogas, que é uma calamidade do Brasil inteiro, não só de Indaiatuba. As drogas tem que ser atacadas em todos os segmentos, ou seja, pela ação social, saúde, segurança, uma campanha educativa. Estou te dando esses exemplos para dizer que a qualidade da cidade precisa ser mantida, mas a nossa crítica é que a priorização dos recursos públicos tem que melhorar um pouco, ela tem que melhorar e essa é a posição do nosso grupo.

CN: Qual é a sua avaliação do mandato do deputado Rogério Nogueira?

SM: Poderia fazer mais pela cidade. Eu sei que ele tem uma história de família de políticos com bastante envolvimento com Indaiatuba, eu entendo que ele estando lá na Alesp, principalmente já tendo tido um mandato ele poderia fazer mais no sentido de atender essas demandas prioritárias, saúde, educação e segurança. Entregaram aí dois ou três ônibus esses dias. O governador vem aí, tira foto e o pessoal faz a propaganda, mas aí eu volto a perguntar se essa é a prioridade real. A democracia participativa, se houvesse um plano de governo participativo a gente iria lá nos bairros. Eu conheço vários moradores de Itaici que são revoltados por não ter esgoto em Itaici e a propaganda de Indaiatuba é que tem 100% de esgoto. Mas não tem. Claro que não tem. A gente tem que ir no Tancredo, Campo Bonito, Morada, tem que expandir o Centro da cidade além do Parque Ecológico, que não tem o que falar, isso aqui é maravilhoso. Eu trago as pessoas aqui e elas ficam encantadas, tem um monte de gente querendo mudar para cá. Mas quando você anda na periferia você vê qual é a demanda. No meu entendimento, não só o deputado Rogério Nogueira, mas também o deputado Bruno Ganem, deveriam se preocupar mais com essas prioridades para atender o que esta população está precisando.

CN: E qual é a sua avaliação do Ganem?

SM: Não vou falar muito dele porque eu sei que é o primeiro mandato dele. Eu conheço um pouco de administração pública e sei que às vezes aquele projeto que você fez um pedido vai ser atendido um ano depois, dois. Ele vai precisar de um tempo. Mas uma crítica pessoal minha. Essa coisa da bandeira dos animais é importante sem dúvida, mas eu considero mais importante a vida humana, da gestante, do bebê. Essa tragédia que aconteceu aqui de nós perdermos dois bebês no hospital. Isso é uma coisa que nos causa muita tristeza e aí é a nossa visão, do nosso grupo, é uma prioridade que nós teríamos, envidaríamos todos os esforços com os nossos deputados estaduais, federais aliados, entendemos que toda essa turma devia priorizar para que isso não acontecesse. A bandeira dos animais é válida, é importante, mas para nós não é prioritária quando você faz a comparação com a vida humana.

CN: Você é a favor da CPI da Saúde?

SM: Já falei nas minhas mídias pessoais que eu sou. Porque eu acho que quem não deve, não teme. Uma CPI pressupõe transparência. Então você tem que ver a oportunidade, a oposição vai querer. Eu vou falar como cidadão. Transparência nunca é demais. Se você tem alguma desconfiança, algum indício que houve alguma irregularidade e precisa apurar, eu entendo que aquilo tem que ser apurado.

CN: Como o senhor avalia a Câmara de vereadores?

SM: Eu frequento as sessões, vejo a dinâmica, eu acho que com 12 cadeiras, eu defendo a redução de cadeiras, dinheiro não é público é do pagador de impostos e temos que ter um respeito com isso, mas quando eu olho as 12 cadeiras e vejo 9 vereadores que trabalham pela situação e 3 que trabalham pela oposição. Ali não tem muito o que fazer. O que o prefeito coloca para votar é aprovado. Alguns por 9 a 3 e em boa parte até pelos 12. O que eu quero dizer. Eu não sei. 12 parece bom. É um assunto que a gente tem que debater, discutir. Não estou dando a minha posição se tem que ter 12 vereadores ou aumentar. Mas estou dizendo simplesmente que a representatividade em relação ao número de habitantes da cidade e principalmente ter uma variação maior de segmentos de ideologia para talvez atender a demanda da população. Porque do jeito que está hoje, 9 a 3, basicamente toda demanda é atendida sem grandes debates ou dificuldade.

CN: Ninguém defende um aumento de gastos públicos desordenado, mas um aumento possivelmente poderia trazer mais representatividade a mais pessoas, é isso?

SM: Sim, é isso que eu quero dizer. Então, vou repetir. Não estou defendendo o aumento no número de vereadores ou de gastos, e aumentar não significa necessariamente que vai ter mais representatividade, mas este é um assunto que merece um debate mais profundo…

CN: É uma pauta impopular…

SM: Sim, é impopular, mas, meu amigo, se você está disposto a entrar na vida pública temos que saber que tem que arcar com esses assuntos impopulares também, são sérios e precisam ser debatidos. E ver realmente o que a população quer. Porque quem vai dizer o que quer para a cidade é a população. Vamos ouvir os poderes e quem sabe. Se a própria população não acha melhor aumentar. Ou ela diz não.

CN: O grupo de vocês foi procurado por algum grupo da cidade, situação ou oposição?

SM: De grupo a grupo, não. A gente sabe que já houve uma procura individual, mas não como grupo, nós nos conhecemos. Não temos inimigos. Seremos adversários. É bom que a população saiba disso. Não estamos tratando de guerra apesar de eu ter uma experiência militar, não estamos tratando de guerra. Entendo que temos visões diferentes sobre assuntos, mas vamos disputar uma eleição. É claro que eu entendo que estes grupos que já estão estabelecidos, tanto da situação, do Gaspar, quanto do Ganem, que representa a oposição, eles tem uma estrutura bem melhor porque já estão estabelecidos. O nosso grupo é totalmente novo, com pessoas que nunca tiveram mandato, apesar de termos conversado com ambos, não há nenhum acerto entre grupo, pretendemos seguir de forma independente para fazer diferença na política indaiatubana.

CN: Significa dizer que haverá candidatos do PSL em Indaiatuba?

SM: Vai ter candidato ou dos outros partidos que porventura estejam no grupo. Estou falando pelo PSL Indaiatuba, mas no nosso grupo temos uma gama mais variada de outros partidos e vamos avaliar o cenário e apontar os partidos pelos quais os candidatos devem sair.

CN: Pode haver coligações…

SM: A lei eleitoral já determina que no vereador não existe mais coligação, mas na majoritária pode ter uma coligação para prefeito ou vice. Vamos avaliar na data certa.

CN: Em um cenário perfeito, quantas cadeiras vocês esperam conseguir na Câmara? Ou vocês não tem metas?

SM: Temos metas, um planejamento estratégico, estamos na fase de captação de pré-candidatos, de simpatizantes, mas um número… você me fez uma pergunta… um número perfeito para o nosso grupo são quatro cadeiras, mas temos a noção da realidade. Pode ser que a gente consiga fazer dois vereadores, podendo ser do PSL ou não, sendo do nosso grupo político. O ideal, quase utópico, seriam quatro, a realidade são dois.

CN: E em uma “tragédia” de não eleger ninguém, como fica?

SM: O grupo não se desmobiliza já, temos uma identificação muito grande com o liberalismo econômico, talvez até com um viés conservador não todos. Uma característica do grupo é que não tem extremos. Entendemos que o debate tem que prevalecer e que estamos em uma curva de aprendizagem. Estamos entrando nessa batalha das eleições para aprender. Em virtude do nosso comprometimento, da nossa maneira de ver a política, o respeito com os eleitores, acreditamos que podemos fazer a diferença na política da cidade. É uma curva de aprendizagem, mas com uma oportunidade, as pesquisas ainda não apontam isso, as que nós tivemos acesso identificam o nosso pré-candidato com 15%, mas estamos em uma crescente e lá na frente tomaremos outras decisões, estamos fazendo a nossa parte e pode ser que tenha êxito, mas se não tivermos, o grupo não se desfaz e nós estaremos presentes tanto em 2022 como em 2024.

CN: Uma pergunta que vocês vão ouvir muito é sobre a experiência. Como responder?

CM: Já esperamos por isso. Vai ser muito comum. Experiência como mandatário, mas a maioria de nós somos gestores ou privados ou públicos. Eu fui gestor público na aeronáutica, já tive grandes orçamentos sob minha responsabilidade, eu sei exatamente que você não pode realizar despesa sem prévio empenho. Então você precisa empenhar, liquidar e pagar. Sei o que é um pregão eletrônico, uma licitação, sei priorizar, conheço planejamento estratégico, sei as áreas que tem que ser empregados os recursos. Então nós entendemos, vamos ter nosso prefeito, nosso vice, os secretários e o que queremos fazer é colocar pessoas técnicas para executar as atividades. Você pode até não ter a experiência na função pública, mas você conhece a gestão de recursos humanos e materiais. O nosso grupo sendo eclético, militares, advogados, comerciantes, contadores, com certeza futuros secretários com bastante potencial de um conhecimento técnico que pode fazer a diferença no município, é nisso que acreditamos.

CN: Por que o Bolsonaro foi tão bem votado em Indaiatuba?

SM: Este liberalismo econômico com a pauta conservadora nos costumes é o que a maioria dos brasileiros quer, tanto no âmbito federal, estadual e municipal. Só que estes movimentos até então estavam organizados. A esquerda de viés social democrata, ou socialista são movimentos internacionais organizados, sem dúvida alguma essa história remonta a União Soviética, os nomes foram mudando, mas a forma de mudar é muito parecida. A população brasileira majoritariamente conservadora, mas até então não tinha uma representação organizada. O último partido de direita conservador foi a UDN, do Carlos Lacerda, que deixou de existir no regime militar. Essa direita do Brasil voltou meio desorganizada, eles permeiam as relações pessoas. O que as pessoas esperam é que a gente consiga se organizar uma direita forte que fazem parte do dia a dia das pessoas que estava sem representação.

CN: O senhor não considera o Fernando Henrique de direita ou centro direita?

SM: Ah, não. Social democrata. Na verdade a social democracia é de centro esquerda. Eu sei que a mídia durante muito tempo colocou como direita…

CN: Até por ter ações liberais…

SM: Sim, até no governo Lula e Dilma as privatizações foram realizadas, mas o que eu quero dizer e o nome disso já conhecido. Temos que concordar com ele, apesar de eu não concordar 100% em tudo com ele, com o professor Olavo de Carvalho. Que nos alertou sobre a estratégia das tesouras, que quando ele falou que todo o espectro ideológico foi jogado à esquerda e quem estava à direita desta esquerda continuava sendo esquerda. A direita não existia. O próprio Lula disse que a esquerda tinha conquistado toda a América Latina. Como é o que as pessoas podem dizer que o PSDB é de direita sendo que ele veio da PMDB. Alguma vez o PMDB foi de direita? Os partidos infelizmente estão tendo muito menos influência, a população quer ver o candidato, ele que está fazendo a diferença. tem partido de esquerda que votam como direita e vice-versa. As pessoas ficam se digladiando quando o que na verdade é importante é a pauta.

CN: Tem papo com a esquerda?

SM: Claro. Nós estamos em uma democracia. Esse movimento conservador é contra o aborto, as drogas, a favor da pena da segunda estância e porte de armas, isso precisa ficar claro. O consenso só pode ser conseguido através do debate. Por um bem maior. Tem que ouvir todo mundo, as demandas e depois decidir.

foto: Hugo Antoneli Junior/Comando Notícia