Professora aposentada costura 300 máscaras em troca de alimentos e doa para ex-alunos em Paulínia
A professora aposentada Lúcia Helena Mathias, de 62 anos, com a intenção de diminuir os danos causados pela crise da Covid-19, decidiu fazer uma campanha para ajudar seus ex-alunos. A moradora de Paulínia (SP) costurou cerca de 300 máscaras em troca de alimentos não perecíveis, e montou 62 cestas básicas para estudantes da Escola Estadual Padre Narciso, onde trabalhou por 12 anos.
“Eu sei que está sendo muito bom para as pessoas que estão passando necessidade, mas eu acho que quem está ganhando mais, sou eu”.
Lúcia explicou que a ideia de produzir os itens de proteção para a pandemia surgiu quando uma amiga confeccionou uma máscara e entregou para ela. Assim, a professora tirou um molde e começou a costurar para entregar em instituições e pessoas que precisavam. Ela chegou a costurar mais de 1 mil.
Após essa iniciativa, a coordenadora do antigo colégio em que lecionava entrou em contato com ela para pedir ajuda a 80 alunos que estavam enfrentando dificuldades devido à crise do novo coronavírus. Muitas crianças e adolescentes que dependiam da merenda escolar estão sem o que comer em suas casas por conta da paralisação das aulas presenciais.
A professora, que lecionava artes, e mais duas amigas decidiram distribuir máscaras um pouco mais sofisticadas do que as destinadas a instituições e moradores de rua. No condomínio onde moram, trocaram os 300 itens por alimentos.
“A gente foi recolhendo [os alimentos], conseguimos 62 cestas. Tinha gente que dava a cesta pronta e pessoas que davam só o alimento. Nós compramos os saquinhos e montamos a cesta. Agora, nós estamos entregando”, contou Lúcia.
Os tecidos usados para confeccionar as máscaras são retalhos que ela recebeu de doação, e há uma parte comprada com seu próprio dinheiro.
“Quando eu vou na loja para comprar o elástico, se eu vejo um tecido diferente, eu compro. Essas máscaras [que foram trocadas por alimentos] foram tecidos que eu comprei para ficarem mais bonitinhas”, disse a professora de artes.
O ato de solidariedade custou alguns calos nas mãos e noites sem dormir, mas é algo que faz a educadora se sentir melhor nesse período tão difícil.
Alunos apadrinhados
A professora explicou que os alunos que devem ganhar essas cestas básicas são os mesmos que estão recebendo o benefício de R$ 55 que as escolas estaduais oferecem para as famílias em situação de vulnerabilidade. Além disso, afirmou que alguns dos estudantes devem ser apadrinhados até dezembro.
“O menino mais ‘pentelho’'[da escola], eu fui na casa dele, e ele casou com 17 anos. Hoje, ele está com 18 anos e está com um bebê. Eu arrumei uma pessoa que vai apadrinhar ele até o final do ano e ela vai comprar fraldas e uma cesta básica todo mês para essa criança”, declara Helena.
40 anos como educadora
Lúcia Helena trabalhou como professora de artes durante 40 anos e, dos 12 dedicados à Escola Estadual Padre Narciso, em Paulínia, sete foram como vice-diretora. O colégio também funcionava, nos finais de semana, como Escola da Família, com atividades extras para os alunos mais carentes.
“Na Escola da Família, eu trabalhava de sábado e domingo, das 9h às 17h, com os alunos mais carentes, e eles passavam o dia inteiro na escola jogando tênis de mesa, futebol, tinha curso de inglês, tinha lanche para eles. Então, a gente acabou ficando próximo por passar o sábado e o domingo juntos”, declara a educadora.
Além do sentimento de carinho pelos ex-alunos, Lúcia disse que estamos em um momento que é preciso pensar no próximo.
“O meu salário está lá, porque eu sou aposentada e, graças a Deus, eu tenho a minha comida e a minha geladeira farta. Mas eu tenho que entender que, com tanta gente passando necessidade, está na hora de parar de ver só a minha vida, tem que ver a do próximo e, por isso, eu resolvi fazer a campanha”.
Com informações de G1 Campinas.
Foto: divulgação.