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Restaurante fechado vira desabafo de quem não conseguiu passar pela crise em Indaiatuba

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 1,3 milhão de empresas brasileiras estavam com atividades suspensas ou encerradas já na primeira quinzena de junho de 2020. Deste total, 522 mil disseram que a pandemia motivou a decisão. Só no Estado de São Paulo, maior polo industrial do país, pelo menos 600 mil micro e pequenas empresas fecharam as portas e 9 milhões de funcionários foram demitidos em razão dos efeitos econômicos da pandemia do novo coronavírus. É o que mostra levantamento feito pelo Serviço Brasileiro de Apoio às micro e pequenas empresas (Sebrae).

Assim como em outras cidades do Estado, os comerciantes de Indaiatuba (SP) também passaram e ainda tentam passar pela crise; em alguns setores mais do que outros. É o caso do Emerson Cruz, empresário da cidade que procurou o Comando Notícia para contar sobre as dificuldades que passou e sobre os motivos que o levaram a fechar o seu restaurante, que funcionava há 12 anos na cidade. Acompanhe o relato do comerciante na íntegra.

Desabafo

“Nascido em Indaiatuba, tenho 48 anos, passei a ser comerciante na cidade há muito tempo. O restaurante foi montado em 2009. O negócio foi super bem, porque durou 12 anos. Entre 2013 e 2014 tivemos uma crise, passei apertado, mas Graças a Deus, sobrevivemos.

Por aqui, nunca houve um incentivo ao comerciantes por partes das esferas Federal, Estadual e Municipal, e venho lutando para sobreviver com o nosso comércio aqui no Brasil. A nossa carga tributária é altíssima. Eu entendo que todos nós vivemos um momento difícil, de pandemia mundial, e isso claro, foi o que forçou o fechamento dos comércios, mas fiz uma faixa culpando sim a gestão pública, pelo seguinte; meu prejuízo veio ser mínimo perto da arrecadação que a cidade recebe. 

Isso tudo claro, vai afetar os serviços essenciais à população como – e principalmente – a saúde. Mas poderia ser evitado com plano sustentável pelo governo local, o que não aconteceu. Me lembro que no dia 21 de março de 2020 houve um decreto estadual sobre a quarentena que o município teve que acatar. Fechamos tudo, e tentávamos nos manter nesse período todo, acreditando que as coisas iriam melhorar e que voltaríamos ao normal. Aí liberaram a volta para trabalharmos, somente dois dias, depois fechou tudo de novo. Após voltarmos a trabalhar novamente por alguns dias, fechou tudo de novo. Então não teve plano nenhum dos governos para dar suporte aos comerciantes.  No meu caso, sempre paguei aluguel, mantinha funcionários e outras despesas com o restaurante; manter um restaurante é muito caro. Infelizmente nós não tivemos muito suporte, aí você vê o governo municipal dar um subsídio para uma empresa de ônibus, que já tem o subsídio mensal, independente da situação econômica. Ainda gastaram uma fortuna para mexer na Avenida Ário Barnabé, uma avenida que tinha sido revitalizada há pouco tempo. Não houve paralisação de obras na cidade; nem das desnecessárias. 

Ele não preparou a cidade com leitos extras por exemplo; a obra que foi criada no Haoc são somente de quartos, sem nenhuma estrutura para emergências. E para os comerciantes, que mantêm a cidade, que geram emprego, e que fazem a “máquina girar”, esses foram simplesmente abandonados. “Como ele mesmo disse; fecharam quase 40 comércios na cidade, mas fazer o quê”. 

Se eu fosse um gestor, eu teria paralisado todas as obras públicas na cidade, e teria criado um plano sustentável para os comerciantes locais, com uma ajuda. Com diálogo, encontraríamos uma solução. Mas o governo municipal não fez nada pra os comerciantes, ele não cancelou IPTU, e nem outros impostos. Não teve diminuição no cargo de comissionados, não teve a diminuição do repasse para a Câmara Municipal; nada. E nós no dia a dia tentamos sobreviver, lutando e buscando alternativas para poder seguir com nossos negócios. Lamentavelmente não tive outra escolha, tive que dispensar funcionários e fechar meu estabelecimento, como diversos outros segmentos também tiveram que fechar. Não houve plano emergencial para podermos passar pela pandemia, todo mundo bem, com pessoas empregadas, com a cidade arrecadando normalmente… não foi isso que tivemos.  Agora estou aqui: foram 12 anos de atividade, e agora, vários funcionários demitidos, eu, cheio de dívidas, e desempregado. Está nas mãos de Deus.

Minha indignação também vai também para os vereadores, que estão lá para defender o povo, e nossos interesses. Eu não vi nenhum deles questionando sobre as obras que estão sendo feitas (e custando fortunas). Eles não exerceram a função deles de fato.

Finalizando, a função do prefeito e dos vereadores é cuidar do bem maior da cidade, que são as pessoas.  É dar saúde e educação, mas é também dar condição de vida digna. E isso não aconteceu.”

 

Foto: arquivo pessoal.