Polícia

“Se vocês se vestem como homem, devem apanhar como um” – motorista é acusado de agressão por homofobia

HUGO ANTONELI JUNIOR

INDAIATUBA – A mãe de uma garota de 19 anos acusa o motorista de uma empresa de ônibus de agressão por homofobia na tarde desta terça-feira (10). A namorada dela, de 22, estava presente no momento dos fatos e também teve a camiseta rasgada. Elas foram para o Pronto Socorro do Hospital Augusto de Oliveira Camargo (Haoc) onde passaram por atendimento e foram liberadas no início da noite.

O motorista, de 46 anos, em relato ao Boletim de Ocorrência, afirmou que as meninas não quiseram descer do ônibus e que ambas o agrediram e que deu socos para se defender. O acusado ainda disse não ter sofrido ferimentos. A empresa Sou Indaiatuba, da Santa Cecília Turismo (Sancetur), afirmou ao Comando Notícia que demitiu por justa causa o funcionário.

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Em entrevista exclusiva ao CN agora pouco, a mãe afirmou que a linha Jardim Oliveira Camargo tem o ponto final atrás do Mini Hospital, no Jardim Morada do Sol. “Minha filha perguntou para ele se o ônibus passaria onde elas precisavam parar na volta. Ele respondeu em um tom arrogante dizendo que não queria elas lá. Foi aí que elas voltaram, passaram o cartão de novo e foram sentar no fundo do ônibus”, conta.

“Ele foi até lá, elas pediram o nome, mas ele disse que se elas se vestiam como homem, deveriam apanhar como um. Aí deu chutes, empurrões e agrediu a minha filha e a namorada dela”, diz. A ocorrência foi registrada da Delegacia de Defesa da Mulher e o caso passará por investigação da Polícia Civil.

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Homofobia é crime, denuncie

Em 2017, 445 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs) foram mortos em crimes motivados por homofobia. O número representa uma vítima a cada 19 horas. O dado está em levantamento realizado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), que registrou o maior número de casos de morte relacionados à homofobia desde que o monitoramento anual começou a ser elaborado pela entidade, há 38 anos.

Os dados de 2017 representam um aumento de 30% em relação a 2016, quando foram registrados 343 casos. Em 2015 foram 319 LGBTs assassinados, contra 320 em 2014 e 314 em 2013. O saldo de crimes violentos contra essa população em 2017 é três vezes maior do que o observado há 10 anos, quando foram identificados 142 casos.

A organização não governamental Human Rights divulgou um relatório a respeito da violação dos direitos humanos no Brasil. O documento destaca que a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos recebeu 725 denúncias de violência, discriminação e outros abusos contra a população LGBT somente no primeiro semestre de 2017.

A lei 10.948, de 2001, dispõe sobre as penalidades aplicadas à prática de discriminação em razão de orientação sexual. Denuncie através dos telefones 153 (Guarda), 190 (Polícia Militar), 100 (Direitos Humanos). Desde 2015, o registro digital de ocorrência passou a contar com um campo específico para incluir nome social, bem como um campo específico para registro de intolerância homofóbica.

Das 445 mortes registradas em 2017, 194 eram gays, 191 eram pessoas trans, 43 eram lésbicas e cinco eram bissexuais. Em relação à maneira como eles foram mortos, 136 episódios envolveram o uso de armas de fogo, 111 foram com armas brancas, 58 foram suicídios, 32 ocorreram após espancamento e 22 foram mortos por asfixia. Há ainda registro de violências como o apedrejamento, degolamento e desfiguração do rosto.

O estado com maior registro de crimes de ódio contra a população LGBT foi São Paulo (59), seguido de Minas Gerais (43), Bahia (35), Ceará (30), Rio de Janeiro (29), Pernambuco (27) e Paraná e Alagoas (23). Entre as regiões, a maior média foi identificada no Norte (3,23 por milhão de habitantes), seguido por Centro-Oeste (2,71) e Nordeste (2,58).

 

fotos: divulgação/arquivo pessoal