Torce carrapato e puxa: entenda como reduzir chance de febre maculosa e mais curiosidades sobre a infecção
Em época de alta no número de carrapatos-estrela, transmissores da febre maculosa, o risco de infecção aumenta e também o número de vítimas. Em Campinas (SP), três homens morreram em um intervalo de menos de 90 dias. Abaixo, curiosidades sobre a doença e formas de reduzir a chance de infecção.
Segundo a médica veterinária da Vigilância em Saúde da Prefeitura de Campinas, Tosca de Lucca, a preocupação sobre os carrapatos precisa ir desde a roupa para frequentar locais de grande população desses aracnídeos até a forma de removê-los da pele com mais segurança.
“Se só puxar, vai arrebentar a peça bucal do carrapato dentro da pele, que é a fixação. Vai ter uma reação infamatória no local da picada, pode ter abscesso, e se a bactéria estava prestes a ser inoculada, ela vai entrar na pele e pode infectar”, alerta a especialista.
O carrapato-estrela pode transmitir a doença nos três estágios dele: micuim, ninfa (vermelho) e adulto. A pior fase é a de ninfa, mais competente para a transmissão e ávida quanto ao parasitismo.
1- Como desgrudar o carrapato da pele?
Ao identificar o carrapato na pele, quando no estágio de ninfa ou adulto é preciso fazer o seguinte: levanta a traseira do carrapato, torce para as laterais e depois puxa. Jamais aproximar a pele do fogo ou de qualquer substância irritante. Segundo Tosca, isso pode aumentar a chance de transmissão.
Se a pessoa identificar muita quantidade de carrapatos, deve tomar banho quente e usar uma bucha vegetal em movimentos circulares. “Se houver indicação médica, usar de sabonete acaricida”.
Carrapato-estrela, transmissor da febre maculosa — Foto: Reprodução
2- Repelente funciona?
Não evitam totalmente a aproximação de carrapatos, mas podem ajudar. Tosca afirma que o produto precisa ter ao menos 25% de icaridina e deve ser usado no corpo e borrifado nas roupas de quem vai a lugares com maior risco de transmissão.
Falando em roupas, melhor preferir: blusas de manga comprida, calças compridas, meias por cima da calça e, de preferência, roupas claras – para quem precisa ir a locais de risco.
3- A bactéria da febre também mata os carrapatos
Tosca explica que a bactéria causadora da febre maculosa também mata a maioria dos carrapatos infectados.
Desta forma, não é grande o número de carrapatos sobreviventes infectados e não é grande a chance de uma pessoa picada ficar doente.
“A chance da pessoa ser parasitada por um carrapato sem a bactéria é grande”, disse a veterinária.
A única maneira de saber se houve infecção é ficar atento ao surgimento de sintomas em até 15 dias desde o contato com uma área que pode ter população de carrapatos.
4- Capivaras multiplicam bactérias
Não são só as capivaras as hospedeiras primárias do carrapato-estrela – os cavalos e as antas também entram nessa lista -, mas elas possuem um sistema “inteligente” de multiplicação das bactérias na corrente sanguínea.
Tosca explica que, após um carrapato infectado picar uma capivara, ela passa a reproduzir a bactéria e ofertar a doença a todos os outros carrapatos saudáveis que se alimentarem do sangue dela. “Ela é amplificadora da bactéria”.
Capivara é hospedeira primária de carrapatos-estrela — Foto: Cynthia da Rocha/Arquivo Pessoal
5- Filhotes nascem infectados
Um carrapato adulto que é infectado vai passar aos seus filhotes a bactéria, mas a maior parte dos micuins acaba não sobrevivendo justamente por causa da doença, segundo a veterinária.
O carrapato que nascer saudável pode se infectar ao longo da vida quando se alimentar nos hospedeiros.
6- Carrapato sobrevive 3 anos sem comer
Isso se ele estiver na fase adulta. Na fase de ninfa, quando transmite mais a febre maculosa, pode ficar até um ano sem se alimentar e continuar vivo, se estiver em um ambiente favorável.
Por isso, as áreas de maior transmissão, perto de rios e córregos, onde há maior número de capivaras e cavalos – no caso da região de Campinas, já que antas não são comuns por aqui – devem ter sempre a indicação do risco da presença de carrapatos-estrela.
De maio a outubro, é a época do ano com mais carrapatos com competência vetorial maior, mais chance de infectar as pessoas.
7- Onde ficam as áreas de risco?
Toda área verde perto de recursos hídricos (rios e córregos, por exemplo) que possua trânsito de animais silvestres. As pessoas devem se atentar também para animais menores, como gambá, ouriço e ratão-do-banhado, que são os hospedeiros secundários do carrapato-estrela.
8- Onde os carrapatos ficam no corpo?
Eles preferem áreas quentes e úmidas, como virilha, atrás de joelhos, nádegas e atrás das orelhas, por exemplo. Segundo Tosca, os homens costumam ser os mais afetados, por questões de trabalho e pelo número maior de pelos no corpo.
Após passar por locais de maior risco, é recomendado olhar o corpo com atenção e lavar as roupas com água quente.
9- Por que é difícil diagnosticar?
Os pacientes com febre maculosa têm sintomas mutio parecidos com dengue e leptospirose, por exemplo. A febre associada a dores no corpo, prostração, náusea, dor de cabeça, diarreia e vômito. O que muda é o histórico de onde o paciente esteve.
Quem tiver sintomas, deve informar ao médico se esteve nos últimos 15 dias em lugares onde é possível a proliferação de carrapatos.
E o mais importante: não mascarar os sintomas. Ao surgir a febre e sabendo do histórico da localidade, a pessoa deve buscar atendimento médico o quanto antes para iniciar o antibiótico contra febre maculosa.
10- Mecanismo de defesa dos carrapatos
Junto à substância que o carrapato-estrela inocula na pele do ser humano, há um componente que “anestesia” o local e não provoca coceira. A pele picada só vai coçar depois que ele terminar de se alimentar naquele ponto.
11 – E é só picar que já transmite?
Não. Por isso a remoção segura por meio da torção do carrapato pode evitar a infecção. O bicho precisa ficar grudado na pele por pelo menos quatro horas para conseguir transmitir a bactéria.
12- Como funciona o tratamento?
Quando o paciente relata ao profissional de saúde os sintomas e que esteve em locais de risco de transmissão, o protocolo é: suspeitar de febre maculosa, tratar com antibiótico – presente em todas as unidades de saúde -, notificar a Vigilância Sanitária e colher amostra de sangue para exame.
O diagnóstico fica pronto dentro de alguns dias, mas a pessoa já vai se tratando como se tivesse a febre maculosa.
Carrapato-estrela e micuim transmitem febre maculosa — Foto: Reprodução/EPTV
13- Tratamento precisa ser rápido para reduzir chance de morte
“A gente percebe muitas vezes que a pessoa leva 2 a 3 dias para buscar atendimento. Quando busca, já é tarde. Entre a febre e o óbito, são 6 a 8 dias. Quando começa a tratar no 4º dia, a chance de óbito aumenta muito”, alerta Tosca.
Por isso, assim que a pessoa perceber a febre e os outros sintomas, já deve ir a uma unidade de saúde ou hospital imediatamente e relatar se esteve em áreas de risco para a presença de carrapatos-estrela.
O antibiótico é dado somente a pacientes com os sintomas. Não há um medicamento que previna a infecção por febre maculosa.
“É muito rápido, é assustador. As pessoas que moram nessas regiões com característica ambiental podem se infectar, e tem um percentual razoável de pessoas que negam estar em locais com carrapatos”, completa a veterinária.
14- Quando é considerado surto?
Campinas teve registro de surto em 2006 e 2007, segundo a Vigilância em Saúde da prefeitura. Mas, essas ocorrências são raras.
Segundo Tosca, a partir de dois casos em uma mesma área – praça, margem – é considerado surto naquele local. Nesta quinta-feira (21), três casos foram identificados no distrito de Sousas, em Campinas, mas em áreas diferentes. Portanto, não se configura surto.
Com informações de G1.