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Tribunal de Contas dá 10 dias para USP explicar cancelamento de concurso em que sobrinhas de funcionária ficaram em 1º e 2º lugar

O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP) pediu nesta quarta-feira (27) que, em até 10 dias, a Universidade de São Paulo (USP) explique o cancelamento de um concorrido concurso público para técnicos de enfermagem do Hospital Universitário (edital nº 47/2022), de junho deste ano.

Na última sexta-feira,  os resultados deste processo seletivo haviam sido anuladosapós suspeita de favorecimento a duas candidatas.

As irmãs Jessica e Bruna Pimenta, que passaram em 1º e 2º lugar, são sobrinhas de Sueli Barros, funcionária de um departamento do H.U. que participou da elaboração da prova.

O presidente do TCESP, Dimas Ramalho, encaminhou um ofício ao Superintendente do Hospital Universitário, José Pinhata Otochenviou, perguntando por que o concurso foi cancelado e quais medidas foram adotadas diante das suspeitas.

Também solicitou à USP que confirme o grau de parentesco entre Sueli, Jessica e Bruna, e que informe se houve participação de funcionários administrativos do H.U. na organização do processo seletivo.

As três negam as acusações e afirmam que estão sofrendo assédio e ameaças pelas redes sociais.

 

Únicas que acertaram todas as respostas

Eram quase 7 mil candidatos disputando 22 vagas (com remuneração de R$ 4,9 mil). De todos eles, só as duas jovens acertaram as 40 questões de múltipla escolha e tiraram a nota máxima.

Quando os resultados foram divulgados, em 25 de junho, participantes estranharam o mesmo sobrenome (Pimenta) das duas primeiras colocadas e o parentesco delas com uma funcionária do hospital. Procuraram, então, a ouvidoria da USP.

Segundo a Comissão de Apuração da universidade, instaurada em 30 de junho para investigar as denúncias, não há evidências concretas de vazamento do exame. No entanto, foram constatados:

A funcionária Sueli afirmou que já prestou depoimento. “O que tenho para falar é que não participei deste processo [seletivo], gostaria que as pessoas que levantaram este fato apresentassem provas”, disse. “Tenho 34 anos de Hospital Universitário, sempre mantive a ética. Quem está falando isso [do favorecimento], nem sei quem é, mas deve estar frustrado por não ter a mesma competência.”

“Tem que ter provas, e não existem provas contra mim e minha irmã”, escreveu Jessica, em mensagem.

 

Salário de R$ 4,9 mil, VR de R$ 45 por dia

O alto número de candidatos inscritos no concurso justifica-se pelas condições das vagas: carteira assinada, 36 horas semanais e salário de R$ 4.923,45.

“Havia também benefícios bons (vale-alimentação em torno R$ 1 mil e vale-refeição de R$ 45 reais por dia). É tudo bem acima do que a gente tem no mercado. Em geral, para técnico de enfermagem, pagam no máximo R$ 4 mil”, conta uma das participantes aprovadas no concurso.

 

Início da suspeita

Pelas redes sociais, por meio de fotos e posts, candidatos do concurso descobriram que as primeiras colocadas, além de serem irmãs, são também sobrinhas de Sueli Barros, secretária-executiva de Educação Continuada do Hospital Universitário da USP. Este departamento colabora com a formulação dos exames de concursos públicos, aplicados pela Fuvest.

 

“A prova não teve diferentes versões. Era a mesma ordem das perguntas para todo mundo. Se as duas [irmãs] tiveram acesso antes, era bem fácil de decorar as respostas ou de levar o gabarito no bolso”, diz uma das técnicas de enfermagem selecionadas, que pediu para não ser identificada.

 

Após mais de 20 dias de investigação, a universidade anunciou a anulação dos resultados da prova de 12 de junho e a aplicação de um novo exame (ainda sem data) aos cerca de 7 mil inscritos.

As questões serão elaboradas por uma banca composta por pessoas de fora do hospital, para evitar conflitos de interesse.

 

 

 

 

 

 

Com informações de G1 Campinas