Imagina viver conscientemente apenas uma vez por ano e esta data coincidir com a época que você mais odeia? É isso que Jorge passa todo ano. Aniversariante na época do Natal, ele passa a viver apenas um dia por ano, sem se lembrar de mais nada. Filmes sobre o Natal em dezembro são como uva passa no arroz, tem gente que gosta e tem quem faça cara feia, mas o novo filme de Leandro Hassum, que estreou na semana passada na Netflix, traz bons ingredientes (maçã na maionese?) para fazer rir e emocionar.
“Tudo Bem no Natal que vem” é mais uma obra do contrato que o humorista ex-Globo assinou com a plataforma para fazer algumas comédias que não passam pelo cinema e vão direto para a tela dos espectadores. O filme está no topo dos mais vistos do Brasil desde que estreou. Hassum é um arrasta multidões aos cinemas, o que já causa curiosidade no público, mas desde “Não se Aceitam Devoluções”, o último filme dele antes deste natalício, o humorista vem mostrando uma espécie de aperfeiçoamento no humor que não era visto no tempo dos “Caras de Pau”, nem em “Até Que a Sorte nos Separe”, muito menos em “Candidato Honesto”.
Apesar disso, não espere um humor menos Jim Carrey ou Eddie Murphy, caricato, gritado e com caras e bocas bem pausadas até o início do riso do público. Isso Hassum não perdeu, mas os filmes recentes trazem uma lição, uma moral, digamos, familiar, mais do que comédia boba ou gratuita sem pé nem cabeça. Em “Tudo Bem no Natal que vem” os clichês do Natal brasileiro são explorados à exaustão. Piada com pavê, com peru, maçã na maionese, sogra chata e lotação nos mercados estão na lista dos principais atos.
Ver um filme de Natal sem neve é quase algo inédito, já que geralmente vemos filmes estrangeiros com este tema. O Natal do Rio de Janeiro com a caixinha para os trabalhadores, panetone, regata e até uma fotografia mais “quente” são uma boa novidade e pontos altos que fazem, sem dúvida, o público se identificar com a história. Quem não conhece (ou é) um cunhado que está sempre pedindo dinheiro emprestado?
Jorge sofre um acidente na festa de Natal e a partir daí passa a acordar sempre no dia 24 de dezembro, data que coincide com o seu aniversário. O filme começa em 2010 e para de contar em 2021, mas continua evoluindo, o que faz lembrar inevitavelmente de Click, de outro monstro das bilheterias no Brasil, Addam Sandler. Ponto para a maquiagem e produção, muito bem feitas ao longo do tempo. Voltando à história, ele vê a vida passar sem viver e nem se reconhecer. Com bigode, de carro novo e até com uma amante, Jorge se acostuma com essa rotina.
Quando percebe que perdeu, além de tempo, a vida em família, ele busca formas de aproveitar o Natal, mesmo que pareça pouco. É o momento em que o filme ganha ares mais dramáticos, lembrando muito o Hassum de “Não se Aceitam Devoluções”. O filme corria o risco de cair em um grande clichê ou a direção poderia até perder a mão em ser dramática demais, mas as críticas de especialistas e a audiência monstruosa até o momento na Netflix mostram que tudo ficou bem equilibrado. Vale a pena ver a comédia natalina brasileira com toda a família. É pra rir e para chorar.
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