Pesquisadores da Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP) desenvolvem o projeto de um ventilador pulmonar mecânico que poderá ser produzido por fabricantes autorizados, rapidamente e com menor custo, para atender emergências em pacientes atingidos pela COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus.
Mais informações podem ser obtidas pelo site da iniciativa. A ação é uma resposta a um pedido da diretoria da Poli e reúne docentes, pesquisadores, alunos e representantes da iniciativa privada. Enquanto um respirador convencional no mercado tem um preço mínimo de cerca de R$ 15 mil, o projeto da Poli permitirá produzir o equipamento a um valor em torno de R$ 1 mil.
“Por suas características, a ação irá viabilizar a construção de alguns milhares de ventiladores a partir de três semanas e ter milhares produzidos em cinco semanas”, explica ao Jornal da USP o engenheiro Raul Gonzalez Lima, coordenador de um grupo de cerca de 40 pessoas envolvidas na iniciativa, que teve início no dia 20 de março.
“Nosso projeto oferece as funcionalidades consideradas necessárias ao tratamento da COVID-19 aliadas à simplicidade e à velocidade de manufatura”, diz o engenheiro, ao explicar que as peças que constituem o equipamento, na maioria, podem ser adquiridas no mercado de fabricantes nacionais. Algumas se encontram em estoques e em distribuidores.
“Esse conjunto de medidas facilitará a montagem dos ventiladores. Procuramos no mercado um fabricante do componente ou quem tenha ele em estoque. Por exemplo, o componente chamado motor de passo foi encontrado em estoque e em quantidade significativa”, completa.
Fabricação
Segundo Raul Gonzalez Lima, o projeto tem licença open source, ou seja, é aberto para utilização pelos interessados em produzir o ventilador. O engenheiro afirma que a Poli será a responsável pelo projeto, mas não pela fabricação, que deve ser feita por empresas com autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A Anvisa inclusive já baixou uma portaria disciplinando quais empresas podem montar os ventiladores e exige que tenham certificação para manufatura de equipamentos médicos, odontológicos ou hospitalares.
Para atender a urgência que a situação demanda, os pesquisadores da Poli desenharam um projeto que eles consideram simples, mas que mantém, segundo testes de subsistemas, muitas funcionalidades em relação aos respiradores convencionais, normalmente usados nas unidades hospitalares no tratamento de síndrome de angústia respiratória.
Como exemplo, Gonzalez cita o controle de amplitude do pulmão, a frequência do ciclo respiratório, o controle do tempo de inspiração e expiração, e a mistura de ar com oxigênio. O trabalho da Poli prevê também o uso de softwares. “Inclusive podemos utilizar processadores que são fabricados aqui mesmo na Poli”, afirma.
Segundo o engenheiro, o subsistema mecânico de inspiração e expiração já está sendo testado com sucesso. Como a agilidade é a marca dessa iniciativa, Gonzalez adianta que o projeto já está com seus parâmetros básicos todos concluídos. Entre os colaboradores, um grupo está responsável pela tecnologia e outro atua na busca de fornecedores, montadores e financiadores.
“Estamos montando uma rede de auxílio que envolve até mesmo representantes da iniciativa privada. Caso a necessidade de ventiladores seja maior do que o que os fabricantes dos equipamentos nacionais consigam manufaturar, estaremos prontos para produzir em poucas semanas. A expectativa é atender o pico da demanda provocado por esta pandemia”, avalia.
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