HUGO ANTONELI JUNIOR
INDAIATUBA – A data que marca a morte do líder negro Zumbi dos Palmares nesta segunda-feira, dia 20, é feriado em mais de mil municípios no Brasil, 102 deles em São Paulo, incluindo as cidades vizinhas e da região como Campinas, Salto, Itu, Jundiaí e Sorocaba.
Em Indaiatuba não é feriado. O Comando Notícia conversou com os três vereadores negros que integram a atual legislatura da Câmara sobre a representação, racismo e feriado. Confira abaixo.
Feriado ou não?
Hélio Ribeiro (PSB): “Muitas cidades brasileiras adotaram a data como feriado e isso não significa que as demais não combatam questões como o racismo, a falta de oportunidades entre as populações negras ou a discriminação racial. Tenho certeza que todas rechaçam essas atitudes e que os cidadãos desses municípios têm consciência de que a questão não é nos reduzirmos a “brancos e negros”, mas nos colocarmos como “humanos”.”
Pepo (PMDB): “Mais importante que o feriado em uma cidade como a nossa, com empresas muito fortes, acho que precisa ser discutido quem foi Zumbi, o grande líder, um cara que lutou muito, até mais que a princesa Izabel, que assinou a Lei Áurea [que libertou os escravos no Brasil] meio que na pressão. Zumbi lutou muito para isso [libertação] e, mais do que um dia de folga, precisamos fazer uma reflexão. Porque as pessoas vão para a praia, viajar e nem sabem o que se comemora naquele dia. Por isso propus na sessão da semana passada um projeto que institui a Semana da Consciência Negra para levar atrações para as escolas e mostrar a história para a sociedade.”
Arthur Spíndola (PV): “Creio que nós devemos cobrar nossos deputados federais para que votem de uma vez a inclusão ou não do feriado nacional. Entenda, apesar da discussão em algumas cidades, como há essa discussão na Câmara Federal, qualquer decisão que tomemos fica obsoleta a partir da decisão deles. Se torna uma discussão inútil a nível municipal.”
Representação negra e história
Hélio: “Compreender o passado e fazer uma relação com o presente é de suma importância para todos nós e mais importante ainda para um legislador. Não só estamos falando de uma Lei, a 12.519 de 10 de novembro de 2011, que instituiu o Dia Nacional da Consciência Negra, mas da História do povo brasileiro e da nossa trajetória enquanto seres humanos.”
Pepo: “Independentemente da nossa cor, temos que nos igualar, seja qual for a raça, religião, todo mundo é igual principalmente perante Deus. Às vezes, o racismo parte dos próprios negros em se achar diferente. É como um apelido. Se você não gosta, pega. Me sinto honrado quando me chamam de negro. Só não pode ter desrespeito chamando de macaco, pegando pesado. É igual quando o cara é chamado de “negão” e fica bravo. Não pode. Porque também os brancos que são chamados de “alemão”, e aí, vai ficar bravo também? Precisamos discutir muito isso.”
Arthur: “Acho importante que eu esteja lá representando os negros na Câmara, mas não me vejo como o representante da cultura negra da cidade. Temos várias entidade como a Cone, Filhos da Semente e a Negritude Brasileira Indaiatuba que representam essa ideia muito bem. Creio que sou apenas um apoiador e parceiro legislativo.”
Racismo e luta em Indaiatuba
Hélio: “No acredito que Indaiatuba tenha algum problema diferente do que qualquer outro Município do Brasil. A igualdade é a meta de todos nós, que lutamos por uma sociedade justa e democrática. Sabemos que não foi a Lei. Áurea que de fato libertou os negros da condição de escravos. E sabemos também que não é o 20 de novembro que trará a consciência de que somos todos iguais. Mas o assunto precisa ser debatido nas escolas, amparado por Leis como a 10639 de 9 de janeiro de 2003 que institui a obrigatoriedade do estudo de História e cultura afro-brasileira no Ensino Fundamental. As coisas escolas de Indaiatuba adotam esse caminho: o de que apenas a Educação muda um povo!”
Pepo: “O racismo está em todas as partes, em todos nós seres humanos e em Indaiatuba não é diferente. Precisamos lutar contra todos os tipos de preconceitos. Contra religião, orientação sexual. Hoje você pega muita gente que tem preconceito com evangélico, espírita, católico, ou pelo camarada ser nordestino ou japonês. Acho que como indaiatubano e brasileiro, temos que deixar as picuinhas de lado e tratar todos como seres humanos, tendo respeito um pelo outro.”
Arthur: “É muito hipocrisia falar que a gente exterminou o racismo. Ele existe dentro da gente e não necessariamente tem a ver com a cor pele. Quem olhou uma pessoa árabe com uma mochila no meio de uma multidão e sentiu um certo medo, teve uma sensação, isso é um pré conceito daquela pessoa, é nisso que o racismo se baseia, para erradicar a gente precisa de uma mudança cultural muito grande dentro de nós mesmos.”
fotos: divulgação/Comando Notícia/assessoria Câmara