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Editorial: fazer jornalismo é caro e vocês precisam saber disto

HUGO ANTONELI JUNIOR

INDAIATUBA – Toda vez que começo esse cabeçalho – nome do autor, cidade de onde está fazendo, traço e início do texto – muita água já passou por debaixo da ponte. Para uma notícia chegar até você no conforto da tela do seu celular ou para você receber uma notificação de “Comando Notícia está ao vivo” é preciso muito trabalho e dedicação. Viemos hoje aqui dizer que o jornalismo é caro, e é essa a notícia do dia. Há quem diga que a internet trouxe mais oportunidades ao jornalismo. Sim, o Comando Notícia é uma prova disso, mas a maior parte da renda publicitária (pública ou privada) continua indo para o mesmo lugar: os velhos meios de comunicação.

O problema é que nós, imprensa, mimamos o público. É fato comprovado que o brasileiro não gosta de pagar por notícias. Mas e a Netflix? E o Spotify? Porque não se paga por notícia, mas paga-se para ouvir uma música ou ver um filme? É bom deixar muito claro, de novo: fazer jornalismo é caro. Mais de 80% das pessoas que começaram a ler este texto nem chegaram até esta linha. Muitos dos nossos leitores não passam mais do que 30 segundo aqui. São tendências preocupantes.

Falando exclusivamente de Indaiatuba, onde atuamos há dois anos e eu há cinco, praticar jornalismo é pisar em ovos. Em meio a tantos veículos que dependem exclusivamente da farta verba pública de publicidade, ser um ponto fora da curva é trabalhar à beira do precipício. Nós nunca recebemos verbas públicas de publicidade, é bom deixar claro. Os poderes que governam o município tem o direito de escolher onde anunciar – mesmo que seja duplamente em jornais que pertencem ao mesmo grupo. O que é inegável atualmente é: todos em Indaiatuba conhecem o Comando Notícia.

Pode parecer chororô de quem não tem anúncio estatal e trabalha com verba no vermelho há dois anos, mas é uma autoanálise necessária. O ideal é que o Comando Notícia fosse pago. Fizemos uma pequena pesquisa em 2016 e o resultado foi o esperado: pouquíssimos pagariam para ler as nossas notícias. As pessoas não querem pagar R$ 10 por ano ou R$ 1 por mês para ter acesso à um conteúdo exclusivo. Se pagassem, teríamos recursos próximos a R$ 100 mil por mês para praticar e expandir o nosso jornalismo. É utopia, eu sei. Se cobrássemos, não teríamos 10% dos acessos que temos. Quase ninguém paga por jornalismo. E é por isso que a área está onde está: na sarjeta.

Se não temos anúncio, não temos verba para rodar. E verba para rodar, leia-se: gastos. Nem começamos a falar sobre salários. Por exemplo, para fazer uma entrevista ao vivo sobre a prisão de dois rapazes por receptação tivemos que ficar, entre apuração e esperar os guardas apresentarem a ocorrência, quatro horas na Delegacia. Quatro horas é metade de um dia de trabalho de uma pessoa no mercado. Só que depois da entrevista em vídeo ao vivo (que não durou mais do que três minutos), tínhamos mais dúzias para produzir.

Na reportagem sobre a morte de um ancião da Congregação Cristã do Brasil levamos mais de duas semanas na produção do texto, que contou com contato com jornalistas argentinos, ligações, pegar o carro e ir apurar. Por trás dos textos que tiveram quase 40 mil acessos ao todo, estão três semanas de trabalho diário e uma boa base de portunhol. É bom que vocês saibam disso.

Em um acidente fatal na rodovia SP-75 no final da tarde de um domingo foram necessários deslocamentos de 40 minutos entre ida e volta e mais de duas horas no local dos fatos. Era domingo. Era 21 horas quando terminamos. Jornalismo é caro, o público precisa saber, o público precisa ajudar. Alguns dos melhores produtos de jornalismo que conhecemos atualmente no país partem da “vaquinha virtual”. As pessoas que querem ver uma matéria sobre um determinado assunto e doam o quanto podem. Quando chega ao necessário, as equipes vão fazer. É o presente, é o futuro, é o necessário.

O jornalismo indaiatubano, afundado em crises e amarrações políticas, deve ter muitas novidades em 2018, mas uma delas poderia vir do público: a disponibilidade de financiar os produtos que quer ver. Já imaginou um veículo que não dependa da Prefeitura para produzir notícias? É o que o Comando é. Publicidade oficial e pública é legal, ética e necessária, mas não deve ser vital. Os mais interessados nas informações, vocês, que conseguiram ler até aqui, devem ser os financiadores do Comando Notícia. Nem todos vão receber bem, afinal, a imprensa brasileira – mamadora oficial de publicidade pública, mimou o público a receber tudo de graça. O problema é que o jornalismo é caro, muito caro. Imagine só para um veículo independente do interior paulista?

Não sei até quando conseguiremos nos manter. O Comando Notícia precisaria de um valor para se manter minimamente, mas atualmente não conta com nem 20% do necessário. É literalmente pagar para trabalhar. Não é chororô ou mimimi – considerando que estamos vindo da internet, onde isso é normal. Trata-se de colocar tudo em panos limpos com vocês que são os verdadeiros donos do Comando Notícia.

Então, na próxima vez que vir a gente e errarmos – seja por corretor ortográfico, se estivermos com imagem ruim na transmissão ao vivo por conta do sinal baixo de internet, ou se você entrar no nosso site ou Facebook e não ver atualizações recentes, lembre-se que fazer jornalismo é caro e estamos tirando leite de pedra para fazer o melhor jornalismo de Indaiatuba. Não sei se conseguimos, mas se você chegou até aqui, sem dúvida estamos no caminho certo.

foto: Comando Notícia