Cidades

“Impacto será positivo”, diz profissional de libras de Indaiatuba sobre redação do Enem

HUGO ANTONELI JUNIOR

INDAIATUBA – Muitos alunos se assustaram com o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sobre os desafios para a educação de surdos no Brasil. A maioria dos alunos ouvidos pelo Comando Notícia reclamou do tema por ser algo distante da realidade de muitos.

Mas, para o intérprete de libras das sessões da Câmara de vereadores, André Luiz Salvador, a abordagem do tema pode render muitos benefícios aos surdos. “O espanto quanto ao tema só mostra quão despreparado está o Brasil no que diz respeito à inclusão e acessibilidade. Acredito ser possível sentir o mesmo que o surdo sente em viver em uma
sociedade ouvinte que impõe regras e o obriga aceitar uma língua, cultura e mundo que não é a realidade para eles, agora vimos a historia inverter-se, o ouvinte ter que escrever sobre um tema que não conhece”, analisa.

Profissional de libras há mais de 10 anos, André está na Câmara há dois e participa de uma instituição chamada “Mãos Que Falam”, que tem 20. “Citar desafios em uma sociedade que forma “profissionais interpretes” sem contato com os usuários da Língua de Sinais, através de cursos online, preocupando-se com a certificação e não com o conhecimento terá um impacto será positivo para o avanço, agora muitos irão se interessar e se aproximaram dos surdos e consequentemente da sua língua”, afirma ele, que trabalha em parceria com a esposa, Andresa Lins.

“O primeiro desafio que o surdo encontra é  porque ele vive no país que a língua oficial é o português (para ouvintes), mas para o surdo a língua materna é Libras (Língua Brasileira de Sinais), língua essa oficializada e reconhecida através de uma lei de 2002. Libras é uma língua com a mesma estrutura de qualquer outra língua a diferença é sua modalidade que é visual-gestual-motora, feita com as mãos, mas contém regras gramaticais como a língua portuguesa”, explica.

libras camara
André trabalha em uma instituição que atua há 20 anos com libras e está há dois na Câmara de Indaiatuba

Se para alguns alunos o tema da redação não foi agradável, para os profissionais é uma esperança. “Para nós que trabalhamos com surdos e lutamos para que a língua de sinais seja respeitada e difundida vemos nesse Enem uma luz no fim do túnel. Alguém já enxergou que o surdo precisa de um diferencial para que conquiste a formação, através desse Enem percebemos que alguém olhou para a comunidade surda”, diz.

“Esperamos que isso seja um “chacoalhão” na educação e que seja motivo de reformas no modo de pensar de algumas pessoas e que o preconceito que impera quando se refere ao surdo deixe de existir ou pelo menos diminua com o conhecimento”, encerra.

Foto: Hugo Antoneli Junior/Comando Notícia