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Morre Ivanete; mulher que esperou um ano por diagnóstico e tratamento em Indaiatuba

Morreu na noite da última terça-feira (15), dona Ivanete Tenório, em Indaiatuba (SP). Ela estava internada no Hospital Augusto de Oliveira Camargo (Haoc), para mais uma vez fazer a retirada do líquido que acumulava em sua barriga. O procedimento era realizado semanalmente no Hospital, mas desta vez, ela teve complicações, e não resistiu.

Ivanete chegou a fazer 16 retiradas de de líquido do abdômen, mas teve complicações na noite da última terça-feira. Depois de esperar quase um ano por um diagnóstico que atestasse qual era o seu problema de saúde, para então iniciar um tratamento adequado, ela acabou passando mal.

Depois de vários pedidos de ajuda vindos dela e do filho Michael – o último deles através de uma liminar da Justiça – ela havia conseguido fazer a biópsia para então com o diagnóstico em mãos, poder fazer a cirurgia. O resultado foi que dona Ivanete estava também – além da barriga d´água e da trombose no fígado, com um câncer em uma veia. A data para a cirurgia havia sido marcada para o dia 22 deste mês, mas infelizmente não deu tempo.  

Entenda o caso

No dia 14 de julho de 2020 o Comando Notícia publicou a primeira matéria sobre o caso da dona Ivanete, que através do filho, pedia ajuda para ter um atendimento digno e um diagnóstico preciso, e principalmente um tratamento adequado para ter a solução de seu problema. Diagnosticada primeiramente com trombose no fígado e barriga d´água,  a paciente disse ao Comando Notícia na época que que não conseguia mais dormir e nem comer, e que sentia muita dor. O filho dela contou à nossa equipe que a mãe não estava sendo atendida como deveria e que há quase um ano tentavam resolver esse problema, mas sem sucesso. Michael disse ainda que procurou ajuda da Prefeitura da cidade, de vereadores, mas que ninguém o ajudou.

No dia 3 de agosto,  fizemos a segunda publicação a pedido do filho dela, Michael. Ele havia feito uma vaquinha virtual para arrecadar o valor suficiente para poder operar a mãe. Nove dias depois, Michael procurou o Comando Notícia para dizer que nada havia sido feito em relação à saúde de sua mãe, e que depois de Ivanete ter feito outro procedimento de retirada de líquido no Hospital, ela chegou em casa, sentiu-se mal, e retornou ao Hospital. A equipe do Comando Notícia conversou com a assessoria do Haoc, que em nota, informou que tudo o que eles poderiam fazer, haviam feito, e que o Hospital já não tinha recursos para ajudá-la. Ivanete chegou a ser encaminhada para a Unicamp, que não atendeu a paciente por ser de risco, e encaminhou de volta ao Haoc. 

No dia 13 de agosto, publicamos uma matéria sobre a decisão judicial que dona Ivanete havia conseguido. A decisão do juiz Fábio Luís Castaldello foi publicada neste dia e era aguardada não só pela família e amigos, mas por muitas pessoas que acompanharam e acompanham o caso dela. A decisão havia concedido à dona Ivanete o direto de ser transferida para um hospital de referência que estivesse apto a resolver o seu problema de saúde no no prazo de 2 dias a partir da decisão. O documento também informava que o não cumprimento da decisão, poderia gerar uma multa diária, que vai de R$ 500,00, até o limite de R$ 50.000,00.

 

 

O que disse o Haoc na época

“Paciente de 47 anos com história de início em 15/10/2019. Na ocasião apresentava com quadro de ascite (acúmulo de líquido no abdome), motivo que vem sendo realizada punção aliviadora desde esta época. Foi submetida a investigação ambulatorial (não internada) sendo submetida a vários exames, tais como Pet CT scan, tomografias computadorizadas, ressonância magnética, colonoscopia, exames de radiologia e laboratório. Os exames evidenciaram que a paciente é portadora de Síndrome de Budd-Chiari, condição grave causada por hipertensão do sistema porta hepático, condição que pode ser causada por várias patologias. O PET CT Scan mostrou processo expansivo sugerindo a trombose tumoral devido a leiomiossarcoma de veia cava inferior (neoplasia maligna). Esta patologia exige recursos técnicos de intervenção e tratamento radiológico intervencionista e oncologia que o HAOC não possui, e apenas alguns hospitais terciários possuem.

Lembramos que os serviços terciários de alta complexidade são de responsabilidade do Estado em provir, e por este motivo, o sistema regulador de vaga do estado foi acionado desde o início. A primeira solicitação à UNICAMP foi feita na data de 31/10/2019.

Esta paciente está em investigação ambulatorial (não internado) sendo consultado por vários profissionais, e necessita de avaliação em serviço de alta complexidade em oncologia cirúrgica. No Hospital Augusto de Oliveira Camargo vem sendo realizada, sequencialmente, as punções de esvaziamento do líquido ascítico, tratamento paliativo que alivia a sobrecarga no abdome, mas precisa da investigação e do diagnóstico definitivo de confirmação da neoplasia (Câncer), por isto já foi solicitada a transferência desta paciente aos serviços referenciados do Sistema Único de Saúde, hospital da UNICAMP ou da PUCC.

Como está ocorrendo demora destes hospitais de referência para receberem a paciente, a Secretaria Municipal de Saúde conseguiu uma avaliação de cirurgião oncológico de outro hospital que confirmou a necessidade de recursos de radiologia intervencionista e procedimento endovascular para se confirmar o que os exames já demonstram e avaliar as possibilidades terapêuticas.

Trata-se de caso complexo, que exige radiologia intervencionista para avaliar as possibilidades de diagnose e terapia, recursos que somente estes hospitais de referência oncológica dispõe.

O HAOC tem oferecido a assistência que lhe cabe, vem realizando os procedimentos de punção do líquido ascítico, e reiteradamente, tem recorrido ao sistema CROSS de referência/contra-referência do SUS, órgão estadual responsável pela regulação de transferência destes pacientes de alta complexidade.

A Secretaria Municipal também tem se empenhado em acionar os mecanismos regulatórios do SUS para que se consiga a transferência ao hospital da UNICAMP ou da PUCC.”

 

O que disse a Prefeitura na época
“A paciente tem sido acompanhada pela Rede Municipal de Saúde desde outubro de 2019 e já foi submetida a diversos procedimentos diagnósticos de média e alta complexidade, todos custeados pelo SUS. Por tratar-se de alta complexidade, o caso foi encaminhado por duas vezes à Unicamp sem sucesso.

A Secretaria de Saúde encaminhou para avaliações de médicos especialistas em várias áreas, os quais solicitaram novos exames complementares. A paciente, neste momento, encontra-se em preparação para um novo procedimento, o qual ocorrerá tão logo os exames pré-operatórios sejam concluídos. Por tratar-se de um caso de alta gravidade médica, com risco de morte, os profissionais têm se empenhando na busca do melhor tratamento e todo o possível tem sido realizado pela Prefeitura de Indaiatuba.

A Secretaria de Saúde continua a acompanhar o caso com seus especialistas e serviços credenciados ao SUS para que a paciente possa obter o atendimento mais adequado possível. A Prefeitura reitera seu compromisso com a transparência e a seriedade no atendimento e cuidado da população por meio dos serviços públicos.”

 

Unicamp
Nós tentamos contato com a Unicamp, mas não recebemos retorno das ligações.

 

 

 

 

 

Foto: arquivo pessoal.