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Na gestão Guedes, guardas fizeram “batismo” com arma na boca de adolescente

HUGO ANTONELI JUNIOR

No dia em que termina a gestão do secretário Alexandre Guedes Pinto à frente da Segurança Pública em Indaiatuba (SP) o Comando Notícia revela detalhes de uma denúncia do Ministério Público contra oito guardas que foram afastados pela Justiça.  A informação da troca de secretário foi confirmada pela Prefeitura de Indaiatuba no final da manhã e foi adiantada pelo Comando Notícia há três semanas, com negativas da administração.

Os crimes de tortura teriam acontecido em 2016 envolvendo os agentes em três bairros diferentes, Parque Campo Bonito, João Pioli e Caminho da Luz. Em um dos relatos, um adolescente de 15 anos teriam sido torturado e os guardas teriam colocado a arma na boca dele dizendo que ele ia morrer. A ação teria feito parte de um “batismo” e aconteceu sob a gestão de Guedes na secretaria.

No despacho à Justiça, o promotor responsável pelo caso classifica que “os crimes relatados na denúncia, com indícios apontando pela prática dos averiguados, são absolutamente graves e equiparados a crimes hediondos.

De acordo com o processo do qual o Comando Notícia teve acesso, o crime aconteceu no dia 29 de julho de 2016 e começou no bairro Parque Campo Bonito. O documento do Ministério Público do Estado de São Paulo afirma que os guardas, “após o término do curso, confraternizaram-se em uma chácara onde resolveram como “batismo”, realizar abordagens e agressões pautadas em graves sofrimentos físicos e morais a pessoas que elegeram como sendo criminosos.”

A acusação relata ainda que por causa das câmeras de monitoramento, dois dos guardas “adulteraram, com a utilização de fita isolante, as identificações alfanuméricas das placas de seus automóveis”. Quatro dos guardas teriam ido, então, ao bairro Caminho da Luz.

Lá encontraram um grupo de pessoas e se identificaram como “policiais civis”, exibindo armas longas e questionando se havia drogas com eles. A acusação ainda diz que os guardas “colocaram armas nas cabeças, costas e joelhos das vítimas e as acusavam com menções de serem “ladrões”, “157”, “bandidos” e diziam que seriam mortos”. A ação de tortura teria durado vinte minutos. “Houve ainda disparos de arma de fogo para cima, por parte dos denunciados.”

Campo Bonito

Depois desta ação, ainda segundo a denúncia do Ministério Público, os guardas foram até o Campo Bonito. Eles encontraram um rapaz com drogas e bebida alcoólica e o agrediram. “Colocaram um saco plástico preto na cabeça da vítima e passaram a restringir sua liberdade, conduzindo-a no veículo automotor. Após conduzirem a vítima por vários pontos da comarca a torturando fisicamente com agressões e psicologicamente com ameaças, os denunciados pararam em local ermo e desferiram um golpe de faca na região abdominal da vítima.”

A denúncia prossegue informando que “os demais, em conluio, garantiam a atuação dos comparsas dando-lhes cobertura. Logo após, determinaram que a vítima deveria correr. A vítima caiu em um barranco e foi ali localizada por uma prima, que o acudiu e conduziu para a Unidade de Pronto Atendimento do Jardim Morada do Sol.”

João Pioli

Os guardas, então, teriam ido até uma praça perto da escola Maria Inês Pinezi, no João Pioli, onde pegaram um adolescente de 15 anos e torturaram. Um dos guardas o agrediu no rosto. “O adolescente teve uma arma apontada à sua barriga, com a determinação que entregasse drogas aos denunciados. A vítima foi inserida no banco traseiro. Ao seu lado da vítima sentou-se [outro guarda] que passou a agredi-la com tapas na cabeça.”

Um dos guardas então, segundo a denúncia do MP, “mostrou uma faca para a vítima, dizendo que o mataria, pois já havia matado sete pessoas, causando-lhe assim grave sofrimento psicológico (…) passou a faca na testa da vítima [e outro guarda] já armado, apontava a arma para o rosto da vítima, aumentando o sofrimento que sentia (…) tomou a arma (…) e a colocou na boca da vítima, anunciando que iria matá-la.”

A denúncia informa que eles o liberaram em seguida e que o adolescente contou para a mãe, que chamou o Grupo de Apoio Preventivo (Gap), para atender a ocorrência. “A vítima passou a suportar grandes transtornos psicológicos após a tortura que foi submetida.”

Afastamento

A Justiça determinou no dia 3 de maio uma série de medidas cautelares contra oito guardas civis de Indaiatuba (SP) investigados em processo sobre crimes de tortura. O pedido foi feito pelo Ministério Público (MP) e aceito pelo juiz José Eduardo da Costa, da 1ª Vara Criminal. Em abril, quatro integrantes da corporação foram presos pela Polícia Civil denunciados por crimes de tortura e abuso de poder na cidade.

Na decisão, o juiz determina aos servidores o “comparecimento mensal em juízo para justificar suas atividades”, “proibição de manter contato com as testemunhas e membros da Guarda Civil, além das vítimas e familiares destes”, “proibição de ausentar-se da cidade sem autorização judicial” e “suspensão do exercício de função pública”.

foto: arquivo/Prefeitura de Indaiatuba