Polícia

“Pensei muito em Deus e achei que ia morrer”, guarda conta momentos de terror em assalto

HUGO ANTONELI JUNIOR

INDAIATUBA – “Na hora eu só pensava em Deus e que eu ia passar”. De shorts, camisa regata, chinelos e – o mais importante – bem e com um sorriso no rosto, o guarda Alexsandro Lucas Miranda recebeu o Comando Notícia em casa menos de uma semana depois de levar dois tiros de fuzil em um assalto à banco. Curiosamente, uma semana antes, ele estava em outro caso de tiroteio, desta vez, no Colibris.

“Entrei para o plantão umas 18h15 e tudo aconteceu por volta de 3h40”, conta. A viatura em que ele estava com o guarda David Lima, recém integrado à corporação, estava descendo a avenida Ário Barnabé quando foi surpreendida por uma quadrilha. “Tinha pelo menos nove que eu contei”, diz.

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“Na hora eu pensei que eu ia morrer, mas não tinha o que fazer. A gente teve que enfrentar os caras e passar no meio da contenção, porque se a gente parasse, a gente morria”, relembra. De acordo com ele, no local foram recolhidas pelo menos 150 cápsulas.

“Acertou na lataria e até no rádio – que fica na parte superior, perto do retrovisor central. Foi quando o David falou ‘me acertaram’ e se abaixou. Eu fiquei abaixado, olhando pelo buraco do volante para guiar”, diz. Logo depois de ver o parceiro baleado, Miranda conta que viu os tiros se aproximarem. “Vi o David abaixar e alguns tiros acertando no banco dele. Aí me reclinei pra frente também, foi quando senti o primeiro tiro nas costas e depois o outro mais embaixo”, relata.

“A gente mexeu num vespeiro. Na hora eu só pensava em passar. Pensei muito em Deus”, conta Miranda. “Cheguei a achar que ia morrer. Peguei a pistola, mas não deu tempo de nada. Quando ouvi os tiros, só tinha que tentar passar deles. Tentei entrar no posto, mas aí saiu um cara armado de lá também”, conta.

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Depois disso, mais uma viatura da Guarda passou pelo local e também foi alvo dos bandidos. Os assaltantes, então, fugiram para uma chácara no bairro Colinas. Lá, em outro tiroteio, quatro foram mortos, dois presos e dois fizeram um reféns. Após mais de três horas de negociação, outros dois também se entregaram.

“Na mesma hora, baleados, a gente desceu para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA)”, diz. “Como a gente não sabia de nada de investigações, foi mesmo o destino que fez a gente ‘trombar’ com eles”,  analisa. “Agora estou tomando um remédio forte a cada 12 horas, mas quando dá oito horas a dor fica pior e aí tomo algo pra dor”, conta. Miranda teve uma costela fraturada e quase o pulmão perfurado.

“Quando a dor fica forte aí eu preciso andar um pouco para aliviar”, encerra. Ainda sem previsão para voltar, Miranda mostra os ferimentos ainda com pontos, mas sabe que logo estará de volta. “Agradeço a todos que oraram pela gente. Naquele dia fizemos o possível e logo estaremos de volta”. Miranda gravou um vídeo agradecendo.

Fotos: Comando Uno/Hugo Antoneli Junior/Comando Notícia