Sem informações sobre total de leitos, Indaiatuba pode estar perto do limite de internação
Nesta quarta-feira (22) o único hospital que atende o SUS em Indaiatuba (SP) chegou ao limite de internações. O máximo de pacientes que o Hospital Augusto de Oliveira Camargo (Haoc) pode internar é de 18 pessoas. Nas últimas 24 horas houve seis novas internações. Ontem havia 13 internados e hoje o total chega aos 19, ou seja, um a mais do que o hospital tem capacidade de abrigar. Por isso, uma nova ala foi reservada para atender as possíveis novas internações. O número de leitos disponíveis nesta ala não foi divulgado.
O Comando Notícia tentou nas últimas semanas com o Hospital Santa Ignês (particular) e com a Secretaria Municipal de Saúde, os leitos disponíveis – incluindo os provisórios no Hospital Dia, mas não obteve retorno. É possível afirmar, portanto, nesta quarta, que a capacidade total de internações na cidade é desconhecida.
Sem a transparência nos números, a cidade pode estar próxima do colapso nas internações. Se nos próximos dias houver muitas pessoas para serem internadas e não houver altas ou transferências, Indaiatuba terá que escolher quem será internado e quem não será internado. Apenas a transparência dos dados de números de leitos que a cidade tem pode tranquilizar a população. Mas o sinal de alerta está ligado, já que o Brasil tem capitais já sem leitos no SUS.
Possíveis soluções
Cidades próximas como Campinas, Itu, Jundiaí e Sorocaba divulgaram recentemente ações para aumentar a capacidade de internação. Em Campinas, o Hospital de Campanha terá capacidade para 114 leitos. Em Itu, o hospital exclusivamente para os casos de coronavírus tem 40 leitos. Em Sorocaba, o hospital emergencial terá 84 leitos. Em São Paulo, no Ibirapuera, são mais 240 leitos criados exclusivamente para o combate à COVID-19. A Prefeitura de Indaiatuba anunciou a criação de leitos para casos que não são do coronavírus, mas não informou a quantidade e nem a ocupação destes leitos desde então.
Colapso em capitais (com HuffPost)
Três estados estão com mais de 90% de seus leitos de Unidades de Terapia Intensiva ocupados. Ceará, Pernambuco e Amazonas estão com sistema de saúde muito perto do limite. Todos já recorreram ao governo federal com pedidos de socorro para ampliar suas estruturas. Mas, entre burocracias e em meio à mudança de gestão no Ministério da Saúde, apenas ouvem que suas demandas serão avaliadas.
Em Pernambuco, 99% dos 319 leitos de UTI exclusivos para tratamento de infecções pelo novo coronavírus estão ocupados. Neles, além de casos já confirmados de covid-19, também há pessoas com suspeitas da doença, com quadro de síndrome respiratória grave. No estado, 260 pessoas já morreram em decorrência da doença e 2.908 foram infectadas, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde.
No Ceará, até segunda (20), 100% dos leitos de UTI estavam ocupados. O governador, Camilo Santana, além de ter feito pedidos ao Ministério da Saúde, entrou em contato com a bancada federal para pedir auxílio na interlocução com o governo, para tentar acelerar o auxílio. De acordo com a Secretaria de Saúde do estado, foram instalados 306 leitos de UTI exclusivos para tratamento de pacientes infectados com o novo coronavírus. Até esta terça, 221 pessoas morreram de covid-19 no Ceará, onde há 3.682 casos confirmados.
Verba para respiradores
O governo federal disponibilizou R$ 658,5 milhões para adquirir 14.100 respiradores ou ventiladores pulmonares para fortalecer a rede pública de saúde.
No entanto, segundo o ministério, apenas 133 dos 6,5 mil ventiladores comprados em contrato assinado com a MagnaMed em 7 de abril foram entregues. Já dos 4,3 mil ventiladores comprados da Intermed Equipamento Médico Hospitalar, em 13 de abril, 120 foram entregues. A distribuição foi feita nos seguintes estados: Ceará, Pernambuco, Amazonas, Amapá, Pará, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
Quanto aos leitos, o Ministério da Saúde afirmou que 540 de 3 mil leitos de UTI prometidos foram distribuídos para as unidades das Federação, sendo que 340 foram instalados em 11 estados: Bahia, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
Esse tipo de leito, chamado UTI volante, é de instalação rápida, e bastam ajustes de adequação elétrica e tubulação de gases. Cada kit de 10 leitos possui 8 equipamentos, como ventilador pulmonar microprocessado (respirador) e desfibrilador/cadioversor com tecnologia bifásica. O prazo para montagem é de 7 a 10 dias, segundo a pasta. Nesta terça, o número de casos confirmados no Brasil chegou a 43.079, com 2.741 mortes.
Estudo aponta alta de casos no interior
Uma pesquisa sobre a disseminação do novo coronavírus feita por pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Presidente Prudente e Botucatu mostra que os casos da COVID-19 no interior paulista estão três semanas atrás dos números registrados na capital e em regiões metropolitanas como Campinas, Sorocaba e Baixada Santista.
“Graças ao isolamento feito em São Paulo, as cidades do interior estão três semanas atrás no número de casos. Então não é hora de relaxar a quarentena. Estamos vivendo a maior calamidade pública desde a gripe espanhola”, diz o professor Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, da Faculdade de Medicina da Unesp em Botucatu e integrante do Centro de Contingência do coronavírus em São Paulo.
Ele explica que cidades maiores têm uma maior responsabilidade, que é proteger as cidades pequenas da disseminação da COVID-19. “Municípios como Bauru, Araraquara, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto, entre outras, são importantes para deter o avanço do vírus”, afirmou o professor. Fortaleza ressalta que o oeste paulista tem o maior número de idosos do estado. “Essa é justamente a população mais frágil, mais suscetível, e a região está afastada dos grandes centros”, alertou.
Segundo o professor titular Raul Borges Guimarães, do departamento de Geografia da Unesp em Presidente Prudente, se por um lado a capital concentra mais da metade dos casos da COVID-19 no Estado, por outro o interior enfrenta outro tipo de problema: menos acesso a hospitais e equipamentos.
“Quem mora em uma cidade com zero casos e se desloca para um município maior para trabalhar, estudar ou fazer compras está ajudando a disseminar o vírus em sua cidade. Os municípios menores estão longe dos hospitais, com menos acesso a equipamentos”, destacou. “As medidas tomadas até o momento mostram que o isolamento social está funcionando, está conseguindo frear o processo”, completou o professor.
foto: divulgação